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A tabela da Adegraf (e a eterna luta contra a prostituição)

Olhando de relance, o título dessa postagem não parece fazer sentido algum. Mas hoje resolvi falar de um tema polêmico (não, não falarei sobre mamilos!) e que poucas pessoas dão a cara a tapa para falar: a prostituição no mercado de design.
Todo designer, em algum momento da sua vida profissional (principalmente no início) já ficou em cima do muro quando perguntado sobre “Qual o valor disso aqui?” (Sim, é mais normal do que você imagina pessoas ignorantes perguntarem dessa maneira sobre seu projeto). Eu confesso que no início da minha vida profissional como designer gráfico quebrei muito a cabeça e fiz MUITA BESTEIRA! Não tenho vergonha de admitir isso pois hoje, apesar de me ver em alguns dilemas às vezes, tenho a plena consciência do que é certo ou errado ao se taxar um serviço. Essa dúvida surge basicamente pelo que foi dito por David Airey no seu livro Design de logotipos que todos amam (que ganhou um post-dica aqui no blog): a atividade e o produto gerado pelo designer é, geralmente, incalculável por ser algo (ou pelo menos deveria ser) único. E além desse detalhe citado existe o óbvio: muito provavelmente a pessoa que te pediu um logotipo, a marca de um produto ou uma embalagem vai LUCRAR com aquilo. Então, nada mais justo que você também LUCRE com seu trabalho.

Exemplificando: em um dos meus primeiros empregos, eu cheguei a trabalhar em um bureau de serviços / gráfica rápida aqui na cidade de João Pessoa/PB. Era uma franquia voltada para recarga de cartuchos de impressora que possuia uma gama de “agregadores de valor”. Porém, nas duas unidades de João Pessoa ocorria o inverso. A recarga dos cartuchos é quem agregava valor aos serviços gráficos. E como a franquia nacional não sabia como lidar com esse fato, deixava nas mãos dos proprietários locais (que não tinham a devida noção da importância do design até mesmo para a subsistência do negócio). Dentre as dezenas (ou milhares) de absurdos, teve um que é impossível esquecer. Um determinado cliente solicitou o serviço de criação de identidade visual para sua agência de turismo que ficava na Suíça. Além do logotipo, toda a papelaria da empresa foi criada. Esse é o tipo de serviço que, só a criação, não sai por menos que R$ 3 mil reais (podem pesquisar em agências / studios / freelancers confiáveis e respeitáveis). De acordo com a nova tabela da ADEGRAF (que citarei mais abaixo), seria um serviço que custaria por volta de R$ 6 mil reais. E sabem qual foi o desfecho? TUDO ISSO SAIU POR R$ 60!!! Apesar de eu e o outro colega de trabalho não concordarmos e não participar do orçamento dado, fomos coniventes. A desculpa dada era que “as ARTES (nome comum e nada a ver dado para denominar os LAYOUTS) seriam “O CHAMA”, e o cliente iria imprimir tudo lá” (Juro como estas foram as palavras usadas pelos antigos donos).

Moral da história: o cliente saiu satisfetíssimo, investiu R$ 60 em um trabalho muito bem executado, todo feito em Corel (o que não é motivo de orgulho, o motivo foi a exigência) e foi para Suíça ganhar muitos euros SEM IMPRIMIR UMA ÚNICA FOLHA DE PAPEL.




Para evitar esse tipo de crime, a ADEGRAF (Associação dos Designers Gráficos do Distrito Federal) lançou a Tabela Referencial de Valores 2013/2015. Essa tabela foi criada com o objetivo de ajudar a todos os designers que sentem essa dificuldade de fazer rápidos cálculos e definir os valores dos projetos a serem executados. O principal público dela é justamente o que mais sente dúvidas: os estudantes e/ou profissionais com menor tempo de mercado. Inclusive, é sugerido nessa tabela que este últimos concedam descontos devido a menor experiência na produção gráfica. Não que profissionais de longa data não precisem, mas é mais comum o primeiro exemplo precisar dessa ajudinha. O link para download da tabela é esse.

Apesar dos valores serem “relativamente” altos, são extremamente justos. Não só a criatividade dos designers está em jogo. A reputação da marca está em jogo, a identidade do cliente e do designer está em jogo. E o valor do projeto não é apenas o dinheiro que entra no caixa, é a quantia que irá pagar a energia elétrica, a água, o aluguel e toda uma gama de obrigações que o designer tem todo santo mês. Portanto, o post de hoje visa ajudar a todos aqueles que precisam de uma mãozinha para darem seus orçamentos e tentar fazer com que a classe se una e torne mais justo o mercado que chega a ser cruel em determinadas regiões (vide João Pessoa, que é possível encontrar logotipos por R$ 30 reais “no menino da xérox”!).

Nota: Ao citar o termo prostituição, o autor do texto não visa denegrir a imagem daqueles que ganham a vida com essa prática sexual. O termo prostituição aqui utilizado serve apenas como comparativo e indicativo para aqueles profissionais que “se vendem”.

2 respostas em “A tabela da Adegraf (e a eterna luta contra a prostituição)”

Eu acredito que é por falta de regulamentação mesmo. Já vi muito designer “amador” com 20 anos de profissão vender serviço de 3mil por 100 reais

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