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Surreal

                 É comum alguém esbarrar numa ideia e executá-la impulsivamente. Bons projetos surgem assim. Mas quando a ideia é nem um pouco harmônica com a realidade, beira a loucura e, mesmo assim, é posta em prática…Uns a acharão insana, outros darão apoio. Só resta ao visionário discernir quem ouvir: o exterior ou sua própria mente. “O Abrigo (Take Shelter)” coloca não só as personagens numa avalanche de tensões, como também o dono dos olhos que o assistem.              
A vida de Curtis é simples, sem grandes arranjos e admirada pela vizinhança da pequena cidade onde vive. Casado com Samantha, uma dona de casa clássica, e bem empregado, apesar dos tempos de crise financeira, sua única dificuldade é educar a filha Hannah. Mas tudo começa a mudar quando Curtis passa a ter pesadelos, que mudam seu comportamento e o levam a investir no abrigo de tempestade no quintal de casa. Além dos estranhos pesadelos, surgem alucinações geradoras de uma preocupação: ele teme ter o mesmo problema psicológico de sua mãe. O problema é se os pesadelos são visões do futuro ou pura loucura de uma mente perturbada.              
Escrito e dirigido por Jeff Nichols, o filme flui sobre essa dúvida e exalta a simplicidade com planos de tirar o fôlego – muita grama verde e céu azul, sem contar o som do vento nas árvores sob efeito também da trilha sonora, elevando a cena até um clima de que algo ruim está para acontecer; cenas de tensão presentes do começo ao fim. E como você fica? Apreensivo do começo ao fim! É belíssimo apreciar o voo dos pássaros, os raios dançando na escuridão; impressionante como uma produção tão simples pode ser tão impactante.                Para Curtis, os pesadelos não são meros efeitos do sono; há neles uma sensação de verdade defendida e temida por ele. Notícias trágicas também contribuem para aumentar a preocupação sobre uma sonhada tempestade. E, assim, ele trama planos, escondidos da esposa, para o abrigo, o lugar onde ficará seguro, e, em paralelo, vai ao psicólogo, pretendendo tratar seu possível problema mental. Michael Shannon realiza uma atuação louvável – a cena dele abrindo a porta do abrigo, o contraste, a luz, a postura… Um trabalho maravilhoso. Jessica Chastain faz mais uma vez uma ótima performance e vai ganhando destaque gradativamente – linda!            
 É estranho refletir o quão louca a pessoa pode parecer em determinadas situações. Na trama há uma leve lembrança de “Cisne Negro” – tive um choque semelhante ao ver Natalie Portman bailarina -,  mas aqui os conflitos, as circunstâncias são diferentes, claro. “O Abrigo” ondula entre ser mais um drama e uma obra com contornos fictícios. O final é fascinante, de deixar boquiaberto. Corra para o seu abrigo para apreciar este.

Postagem via muitoalemdofim

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